Pajé Filmes
Coletivo Audiovisual Indígena
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“Para que a América viva, a Europa deve morrer”



Publicamos uma versão do discurso de Russel Means, ameríndio norteamericano falecido em outubro de 2012. Means foi um dos mais representativos participantes do American Indian Movement (AIM), movimento pela causa indígena que aconteceu nos Estados Unidos nos anos 60 e 70.
O texto é importante, pois desfaz certa identificação automática que alguns querem entre marxismo e indigenismo. Russel Means, com muita perspicácia, demonstra que isso não passa de uma falácia; que a filosofia indígena é estruturalmente diferente da mentalidade europeia, que tem no marxismo, como ele mesmo diz, "just the same old song".

 
Esta tradução foi retirada do blog "Informação Incorreta", feita por Max.

A primeira parte pode ser encontrado no link:
http://informacaoincorrecta.blogspot.com.br/2012/10/indians-parte-i.html
E a segunda parte neste link:
http://informacaoincorrecta.blogspot.com.br/2012/10/indians-parte-ii.html

Neste outro blog encontra-se a versão em inglês:
http://endofcapitalism.com/2010/10/17/revolution-and-american-indians-marxism-is-as-alien-to-my-culture-as-capitalism/

Segue, pois, o texto como está no blog em português.

O seguinte é um discurso de Russel Means, nome verdadeiro Oyate Wacinyapin("Aquele que trabalha para o povo"), chefe dos Lakota.

O nativo americano mais conhecido desde os tempo de Touro Sentado ou Cavalo louco, morreu na passada Segunda-Feira, dia 22 de Outubro de 2012.


“Para que a América viva, a Europa deve morrer”


O único início possível numa declaração como esta é que odeio a escrita. O processo em si resume o conceito europeu de "pensamento legítimo": o que está escrito tem uma importância que é negado ao falado. A minha cultura, a cultura Lakota, tem uma tradição oral, assim de modo geral recuso-se a escrever. Esta é uma das maneiras em que o mundo branco destrói as culturas dos povos não-europeus, através da imposição de uma abstracção sobre o relacionamento não falado de um povo.

Portanto, o que podem aqui ler não é o que eu escrevi. Isso é o que eu disse e que alguém escreveu. Permiti isso porque parece que a única maneira de comunicar com o mundo branco é através das folhas secas, mortas, de um livro.

Eu não me importo que as minhas palavras alcancem ou não os brancos. Eles já demonstraram através da história deles não serem capazes de ouvir, não podem ver, mas só podem ler (claro, há excepções, mas as excepções só confirmam a regra). Estou mais preocupado em fazer-se ouvir pelos indígenas americanos, estudantes e outros, que começaram a ser absorvidos pelo mundo branco através das universidades e outras instituições. Mas, mesmo neste caso, é um tipo de preocupação apenas marginal.

É absolutamente possível crescer com um aspecto exterior vermelho e a mente branco, e se este é o resultado da escolha individual de uma pessoa, que assim seja, e eu não sou de alguma utilidade para eles. Isso faz parte do processo de genocídio cultural realizado hoje pelos europeus contra os povos indígenas americanos. A minha preocupação é dirigidas aos índios americanos que escolhem resistir a esta genocídio, mas que podem estar confusos sobre como proceder.

Reparem que utilizo o termo "índio americano" em vez de "nativos americanos" ou "povos nativos indígenas" ou "índios", quando me refiro ao meu povo. Houve alguma controvérsia sobre tais termos, e francamente, neste momento, acho uma polémica absurda. Em primeiro lugar, parece que "índio americano" deve ser rejeitado porque de origem europeia, o que é verdade. Mas todos os termos acima são de origem europeia, a única forma não-europeu falar de "Lakota" ou, mais precisamente, "Oglala", "Queimada", "Dine", "Miccosukee", e o que sobrar das centenas de correctos nomes tribais.

Além disso, há uma certa confusão sobre a palavra "índio", um termo equívoco que de alguma forma lembra o país Índia. Quando Colombo desembarcou na praia nas Caraíbas, não estava à procura dum país chamado Índia. Em 1492, os europeus chamavam Hindustan aquele país. Basta olhar para os mapas antigos. Colombo interpelou o povos tribal que se reuniu com ele "Índio", usando uma expressão italiana que significa "In Deus" [In Dio, ndt].

É preciso um compromisso forte por parte de cada índio americano para não se tornar europeizado. A força desta tentativa pode estar baseada apenas nas práticas tradicionais, nos valores tradicionais que os nossos anciãos retêm. Os relacionamentos devem basear-se no círculo, nas quatro direcções, não podem ser fundamentadas nas páginas de um livro ou duns milhares de livros.

Nenhum europeu pode ensinar a um Lakota para ser Lakota, um Hopi ser Hopi. Um mestrado em "Estudos indiano" ou "cultura indígena" ou qualquer outra coisa não pode transformar uma pessoa num ser humano ou fornecer conhecimento nas formas tradicionais. Só pode transformá-lo num estranho ao nosso mundo, à nossa maneira de pensar, um estranho que assumiu a mentalidade europeia.

Aqui, gostaria de esclarecer a esse respeito, porque pode parecer que haja alguma confusão em mim. Quando falo de europeus ou mentalmente europeus, não faço distinções que podem estar erradas. Eu não digo que, por um lado, há os produtos de alguns milhares de anos de acções genocidas dos reaccionário, um desenvolvimento intelectual europeu insalubre, e que num outro lado há algum desenvolvimento novo e revolucionário, intelectual e positivo.

Refiro-me aqui às chamadas teorias do marxismo e do anarquismo, o "esquerdismo" em geral. Eu não acho que essas teorias podem ser separadas do resto da tradição intelectual europeia. Esta é, na verdade, apenas a mesma velha canção.

O processo teve o seu início muito antes.
Newton, por exemplo, "revolucionou" a física e as ciências naturais, reduzindo o universo físico a uma equação matemática linear. Descartes fez a mesma coisa com a cultura. John Locke fez isso com a política, e Adam Smith com a economia. Cada um desses "pensadores" pegou num pedaço de espiritualidade da existência humana e transformou-a num código, numa abstracção. Eles retomaram o ponto no qual o cristianismo tinha acabado: eles "secularizaram" a religião cristã, como os estudiosos amam afirmas, e com isso tornaram a Europa mais capaz e pronta para agir através duma cultura expansionista.

Cada uma dessas revoluções intelectuais serviu para tornar ainda mais abstracta a mentalidade Europeia, para remover do universo a maravilhosa complexidade e espiritualidade deste e substituí-la por uma sequência lógica: um, dois, três, resposta. Isto é o pensamento europeu tem vindo a definir como "eficiência". Tudo o que é mecanicista é perfeito, e tudo o que na altura parece funcionar, isto é, que demonstra que aquele modelo mecânico é perfeito, é para ser considerado como correcto, mesmo que seja claramente mentiroso. É por isso que as "verdades" mudam tão rapidamente no pensamento europeu e as respostas que resultam deste processo são apenas paliativas, apenas temporárias, e devem ser continuamente descartadas em favor dum novo tapa-buraco, outros modelos mecânicos que apoiam e mantêm estes modelos em vida.

Hegel e Marx foram herdeiros do pensamento de Newton, Descartes, Locke e Smith.
Hegel concluiu o processo de secularização da teologia, e de acordo com suas proposições secularizou o pensamento religioso através do qual a Europa interpretava o universo. Em seguida, Marx definiu a filosofia de Hegel em termos de "materialismo", ou seja, Marx de-espiritualizou inteiramente a obra de Hegel, sempre de acordo com a visão de Marx. E isso é agora visto como o potencial futuro revolucionário da Europa.

Os europeus podem ver isso como revolucionário, mas os índios americanos vêm tudo exactamente como o velho conflito europeu, ainda mais pronunciado, entre sere ter lucro. As raízes intelectuais desta nova fórmula marxista do imperialismo europeu ligam Marx e os seguidores deles à tradição de Newton, Hegel e de todos os outros.

Ser é uma proposição espiritual. Ter lucro é um acto físico.
Tradicionalmente, os índios americanos sempre tentaram ser as melhores pessoas possíveis. Parte do processo espiritual era, e é, distribuir a riqueza, abdicar das riquezas para não ter lucros. Entre o povo da tradição, o lucro material é um indicador de uma situação enganosa, enquanto que para os europeus é "a prova de que o sistema funciona.

Claramente, nesta questão estamos a lidar com dois pontos de vista completamente opostos e o marxismo é verdadeiramente muito afastado, no lado oposto do ponto de vista dos índios americanos.

Mas vamos examinar uma importante consequência de tudo isso: este não é um mero debate intelectual.
A tradição europeia materialista de de-espiritualização do universo é muito semelhante ao processo mental que tende a desumanizar outra pessoa. E quem parece mais especialista em desumanizar as outras pessoas? E qual a razão?

Os soldados que tomaram parte em muitas batalhas aprendem a fazer isso contra o inimigo, antes de voltar a lutar. Os assassinos fazem isso antes de cometer um assassinato. Os soldados nazistas da SS faziam isso com os prisioneiros dos campos de concentração. Os policiais fazem o mesmo. Os executivos duma grandes empresas fazem isso aos trabalhadores enviados para as minas de urânio. Os políticos fazem isso. O que o processo tem em comum em cada grupo é a desumanização que dá a todos o direito de matar e destruir outras pessoas.

Um dos mandamentos cristão diz: "Não matarás", pelo menos não os seres humanos, e portanto o truque é converter mentalmente as vítimas em não-humanos. Então podemos até alterar como uma virtude a violação do mandamento. Em termos de de-espiritualização do universo, o processo mental funciona de forma a que se torne virtuoso destruir o planeta.

Termos como "progresso" e "desenvolvimento" são utilizados ​​como termos de cobertura, a maneira na qual os termos "vitória" e "liberdade" são utilizados serve para justificar o massacre no processo de desumanização. Por exemplo, um especulador imobiliário pode utilizar "desenvolvimento" numa porção de terra com a abertura de um poço de cascalho, um desenvolvimento que, neste caso, significa a destruição total, permanente, com a remoção da terra em si. Mas, segundo a lógica europeia, são obtidas algumas toneladas de cascalho com as quais mais terra pode ser "desenvolvida" através da construção de estradas. Em última análise, o inteiro universo está aberto, de acordo com o ponto de vista europeu, neste tipo de loucura.

Talvez o mais importante é o facto dos europeus não experimentarem nenhuma sensação de perda em tudo isso. Afinal, os seus filósofos têm de-espiritualizado a realidade, então não há nenhuma satisfação (para eles) na forma simples de observar a maravilha de uma montanha ou de um lago ou de um povo no seu ser. Não, a satisfação é medida em termos de ganho material. Então a montanha torna-se cascalho, o lago torna-se líquido refrigerante para uma fábrica e as pessoas são reunidas para ser submetidas a programas de processamento em fábricas de doutrinação coerciva, que os europeus gostam de chamar "escolas".

Mas cada novo fragmento de "progresso" aumenta os riscos do mundo real. Tomemos por exemplo o combustível da máquina industrial. Há poucos mais de dois séculos, quase todos utilizavam a madeira, um produto natural renovável, como combustível para as necessidades humanas de cozinhar a comida e de ficar quente.
Depois, veio a Revolução Industrial e o carvão tornou-se o combustível dominante, dado que na Europa a produção tinha-se tornado o imperativo social. A poluição começou a ser um problema nas cidades e a terra foi rasgada para o fornecimento do carvão, enquanto a madeira sempre tinha sido simplesmente recolhida sem grandes despesas para o meio ambiente.
Posteriormente, o petróleo tornou-se o combustível principal, quando a tecnologia da produção foi aperfeiçoada por meio de uma série de "revoluções" científicas. A poluição tem aumentado dramaticamente, e ninguém sabe ao certo quais serão no longo prazo os custos ambientais de bombear o petróleo a partir da terra.

Agora, estamos perante duma "crise energética", e o urânio está a tornar-se o combustível dominante. Por um lado, os Capitalistas apostam no desenvolvimento do urânio como combustível em relação ao potencial para a obtenção de bons lucros. Esta é ética deles, e talvez isso permita que eles ganhem um pouco de tempo. Os Marxistas, por outro lado, apostam no desenvolvimento do urânio o mais rapidamente possível simplesmente porque é o combustível que torna viável uma produção mais "eficiente". Esta é a ética deles, e eu não posso escolher qual o ponto de vista preferível. Como eu disse, o marxismo está colocado bem no meio da tradição europeia. É a mesma velha canção.

Existe uma regra de ouro que pode ser aplicada neste caso. Não podemos julgar a verdadeira natureza duma doutrina revolucionária europeia com base nas mudanças esperadas na Europa nas estruturas da sociedade e do poder. Só podemos julga-la pelos efeitos que terá sobre os povos não-europeus.

Isto porque todas as revoluções da história da Europa têm servido para reforçar as tendências e a capacidade da Europa de exportar a destruição de outros povos, outras culturas e do próprio meio ambiente. Eu desafio todos a lembrar-se dum exemplo em que isso não ocorreu.

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Então, agora, nós, o povo dos índios americanos, somos convidados a acreditar que uma nova doutrina revolucionária europeia, como o marxismo, possa anular os efeitos negativos da história europeia exercida contra nós. As relações de poder na Europa estão numa fase de transformação, uma vez mais, e isso deveria tornar as coisas melhores para todos nós. Mas o que isso realmente significa? Hoje, nós que vivemos na reserva de Pine Ridge, estamos a viver na zona que o homem branco tem designado como uma "Zona de Sacrifício Nacional". Isto significa que na área há depósitos de urânio importantes, e a cultura branca (não nós) necessita desse urânio como do material para a produção de energia.

A maneira mais económica e eficiente para extrair e processar este urânio é despejar os subprodutos da operação nos locais de escavação. Aqui onde vivemos. Esses resíduos são radioactivos e vão tornar toda a região inabitável para sempre. Este é considerado, pela indústria e pela sociedade branca que criou esta indústria, um preço "sustentável" para financiar o desenvolvimento dos recursos energéticos.

No processo, como parte da obra, também planeiam drenar a água subterrânea que fica sob esta parte do Dakota do Sul, para que a região se torne duplamente inabitável. A mesma sorte é sofrida pelas terras dos Navajo e dos Hopi, a terra dos Cheyenne do Norte dos Crow, e em outros lugares. Trinta por cento do carvão no Oeste dos Estados Unidos e metade dos depósitos de urânio foram encontrados nas terras das reservas, por isso não é apropriado chamar isso uma questão menor.

Estamos a resistir para não ser entregues numa "Zona de Sacrifício Nacional". Estamos a resistir para não ser transformados num povo nacional para o sacrifício. Para nós, os custos deste processo industrial são inaceitáveis. É genocídio, nem mais nem menos, extrair urânio aqui e drenar a água. Agora, suponhamos que, na nossa resistência ao extermínio, começamos a procurar aliados. Suponhamos, ainda, que estamos dispostos a confiar na palavra do marxismo revolucionário: que pretende nada menos do que derrubar a ordem capitalista Europeu, que representou uma ameaça para a nossa própria existência. Isto pode parecer ao povo dos índios americanos uma aliança natural. Afinal, como dizem os marxistas, são os capitalistas que impuseram um sacrifício nacional. Isto é absolutamente verdadeiro. Mas, como eu tentei salientar, esta "verdade" é muito enganadora.

O marxismo revolucionário está empenhado em perpetuar e melhorar ainda mais o processo industrial, que todavia está a destruir todos nós. O marxismo oferece apenas de "redistribuir" os lucros, o dinheiro na verdade, desta industrialização a uma maior parte da população. Propõe tomar a riqueza dos capitalistas e espalhá-la, mas para fazer isso, o marxismo deve manter o sistema industrial. Mais uma vez, as relações de poder dentro da sociedade europeia podem ter mudado, mas, novamente, os efeitos sobre o povo dos índios americanos e não-europeus em outras partes do mundo permanecerão os mesmos.

Será como quando o poder foi redistribuído da igreja para as empresas privadas durante a chamada revolução burguesa. A sociedade europeia no seu interior mudou um pouco, pelo menos superficialmente, mas a sua conduta perante os não-europeus continuou como antes. Para confirmar isso, pode-se ver facilmente o que a Revolução Americana de 1776 fez com os índios americanos. É a mesma velha canção.

O marxismo revolucionário, como a sociedade industrial em outras formas, procura "racionalizar" (para organizar o trabalho e a produção) todas as pessoas em relação à indústria e à máxima produção industrial. É uma doutrina materialista, que despreza a tradição indiana americana espiritual, as nossas culturas, o nosso modo de vida.
O próprio Marx definia-nos como "pré-capitalistas" e "primitivos".

Pré-capitalista significa simplesmente que, na opinião dele, mais tarde teríamos descoberto o capitalismo e teríamo-nos tornado capitalistas, sempre fomos economicamente atrasados em termos marxistas. A única maneira para os índios americanos participar numa revolução marxista seria aderir ao sistema industrial, para tornar-se trabalhadores duma fábrica, ou "proletários", como definidos por Marx. Este teórico foi muito claro acerca do facto de que a sua revolução poderia ocorrer apenas através da luta do proletariado, que a existência de um maciço sistema industrial é uma condição prévia duma sociedade marxistas bem sucedida.

Acho que estamos em presença dum problema de linguagem. Cristãos, capitalistas, marxistas. Todos eles têm sido revolucionários nas suas ideias, mas nenhuma delas realmente significa "revolução". O que realmente significa é apenas "continuação". Fazem o que fazem para que a cultura europeia possa perpetuar-se e desenvolver-se de acordo com as suas necessidades.
Então, para realmente unir as forças com o marxismo, nós índios americanos teríamos que aceitar o sacrifício nacional da nossa pátria, deveríamos aceitar o nosso suicídio cultural e tornar-nos industrializados e europeizados.

Nesta altura é necessário que eu pare e perguntar se não estou a ser demasiado duro.
O marxismo tem a sua própria história. Esta história reforça os meus pensamentos?
Ao analisar o processo de industrialização na União Soviética desde 1920, vejo que esses marxistas têm feito o que a Revolução Industrial Inglesa levou 300 anos para fazer, só que os marxistas fizeram o mesmo em 60 anos. Eu vejo que o território da URSS, que continha um certo número de povos indígenas, tem sido usado para abrir caminho para as fábricas e as pessoas foram sacrificadas. Os soviéticos referem-se a isso como a "Questão Nacional", a questão de saber se os povos tribais tinham o direito de existir enquanto povos: e decidiram que os povos indígenas eram um sacrifício aceitável para as necessidades industriais. Eu olho para a China e vejo a mesma coisa. Eu olho para o Vietnam e vejo marxistas que, para impor o próprio sistema industrial, arrancam os indígenas tribais das montanhas. indígena tribal.

Ouvi um proeminente cientista soviético dizer que quando o urânio for esgotado, só então serão procuradas alternativas. Vejo que os vietnamitas tomaram posse de uma usina nuclear abandonada pelos militares dos EUA. Foi desmantelada e destruída? Não, estão a utiliza-la. Vejo a China que explode bombas nucleares, desenvolver de reactores de urânio e preparar um programa espacial para colonizar e explorar os planetas, da mesma forma que os europeus colonizaram e exploraram este hemisfério. É a mesma velha canção. Mas desta vez, talvez, com um ritmo mais rápido.
A declaração do cientista soviético é muito interessante. Ele sabe quais são as fontes de energia alternativas? Não, ele tem apenas fé. A ciência vai encontrar uma maneira!
Oiço marxistas revolucionários declararem que a destruição do meio ambiente, a poluição e a radiação estarão completamente sob controle. E vejo que estão a comportar-se mal, não de acordo com as declarações deles. Eles sabem como essas coisas poderão ser controladas? Não, só têm fé! A ciência vai encontrar um caminho! A industrialização é maravilhosa e necessária.
Como sabem disso? Fé! A ciência vai encontrar uma maneira.

Na Europa, esse tipo de fé sempre caracterizou-se como uma "religião". A ciência tornou-se a nova religião Europeia para os capitalistas e para os marxistas, eles estão intimamente ligados, são parte integrante da cultura. Assim, tanto na teoria como na prática, o marxismo exige que os povos não-europeus desistam dos seus valores, das suas tradições, da sua existência cultural. Numa sociedade marxista, devemos todos tornar-nos viciados na ciência da industrialização.

Não acho que o capitalismo em si seja realmente o único responsável pela situação em que os índios americanos estão destinados ao sacrifício nacional. Não, é a tradição europeia, a cultura europeia a ser directamente responsável. O marxismo é apenas a mais recente continuação desta tradição, não uma solução. Aliar-se com o marxismo é como aliar-se com as próprias forças que nos definem como um custo aceitável e sustentável.
Existe outra maneira. O caminho é aquele da tradição Lakota, e as modalidades são aquelas dos outros povos indígenas da América. Este caminho prevê que os seres humanos não tenham o direito de degradar a Mãe Terra, que existem forças além de qualquer coisa que a mente Europeia concebeu, que os seres humanos devem entrar em relacionamentos e harmonia com tudo e estes relacionamentos conservados irão eliminar a desarmonia.
A veemência desequilibrada exercida por seres humanos contra seres humanos, a arrogância dos europeus a agir como se ficassem além da natureza de todas as coisas intimamente ligadas entre elas, só pode resultar numa desarmonia total e um reajuste para redimensionar a arrogância dos seres humanos fornece o sabor da realidade que está fora do alcance ou do controle deles, e restaura a harmonia.
Não há necessidade de uma teoria revolucionária para alcançar este resultado, tudo isso ultrapassa o controle humano. Os povos ligados à Natureza sabem disso e não precisam de um monte de teorias. A teoria é um abstracto, o nosso conhecimento é a realidade.
Destilada destes termos de fundo, a fé Europeia, incluindo a nova fé na ciência, equivale à crença de que o homem é Deus. A Europa sempre procurou um Messias, seja ele o homem Jesus Cristo, o homem Karl Marx ou o homem Albert Einstein. Os índios americanos sabem que isso é completamente absurdo.

Os seres humanos são os mais fracos das criaturas, tão fracos que as outras criaturas estão dispostas a dar a carne dele para que possamos viver. Os seres humanos são capazes de sobreviver apenas através do exercício da racionalidade, uma vez que não possuem as capacidades das outras criaturas para obter comida através do uso de presas e garras.
Mas a racionalidade é uma maldição, já que pode induzir o homem a esquecer a ordem natural das coisas, duma forma que outras criaturas não fazem. Um lobo nunca esquece o seu próprio lugar na ordem natural. Os nativos americanos, por vezes, podem faz-lo. Os Europeus quase sempre.

Nós agradecemos os veados, nossos parentes, por permitir-nos comer a sua carne; os europeus simplesmente consideram a carne como uma questão de direito e consideram os veados seres inferiores. Afinal, os europeus consideram-se divinos no seu racionalismo e no seu conhecimento. Deus é o Ser Supremo, então tudo deve ser menor.
Toda a tradição europeia, marxismo incluído, conspirou para desafiar a ordem natural de todas as coisas. A Mãe Terra foi abusada, as forças da natureza foram abusadas, e isso não pode durar para sempre. Nenhuma teoria pode alterar esse simples facto. A Mãe Terra vai reagir, todo o ambiente se revoltará e os agressores serão eliminados. Tudo fecha-se num círculo, volta-se ao ponto de partida. Esta é a revolução! E esta é a profecia do meu povo, do povo Hopi e dos outros povos justos.

Durante séculos, os nativos americanos têm tentado explicar isso aos europeus. Mas, como disse anteriormente, os europeus têm-se mostrado incapazes de ouvir.
A ordem natural triunfará, e os seus violadores irão morrer, porque o veados morrem quando ofendem a harmonia sovrapopolando uma determinada região. É apenas uma questão de tempo, mas o que os europeus chamam de "uma catástrofe de proporções globais" irá ocorrer.

Sobreviver, este é o objectivo de todos os seres naturais. Uma parte da nossa sobrevivência é devida ao facto de resistir. Nós não resistimos para derrubar um governo ou para tomar o poder político, mas porque, para sobreviver, é natural resistir ao extermínio. Nós não queremos o poder sobre as instituições brancas, queremos o desaparecimento das instituições brancas. Esta é a nossa revolução.
Os índios americanos ainda estão em contacto com essas realidades, as profecias, as tradições dos nossos antepassados. Nós aprendemos com os mais velhos, com a natureza, com as forças da natureza. E quando a catástrofe terá acabado, nós, povos indígenas americanos, ainda aqui estaremos para habitar o hemisfério.
Não me importo que tenha sobrado apenas um punhado de índios que vivem nos Andes. Os povos indígenas da América vão sobreviver: a harmonia será restaurada. Esta é a revolução.

Neste ponto, talvez deveria ser mais claro sobre outro assunto, que no entanto já deveria estar claro, como resultado do que eu disse. Mas nesses dias facilmente criar-se confusão, então quero enfatizar este ponto.
Quando utilizo a palavra "europeu", não estou a referir-me a uma cor da pele ou a uma específica estrutura genética. O que eu trato é uma mentalidade, uma visão do mundo como produto do desenvolvimento da "cultura europeia". As pessoas não são geneticamente codificadas para acreditar e forma inata nessa perspectiva, têm sido ensinadas a acredita-la.
O mesmo é verdadeiro para os índios americanos ou para os membros de qualquer outra cultura. É possível que um índio americano compartilhe os valores europeus, uma visão de mundo europeia.
Temos um termo para essas pessoas, "maçãs", vermelhas por fora (genética) e branco no interior (valores). Outros grupos têm termos semelhantes: os negros têm os seus "oreos" [a bolacha produzida pela Nabisco, desde Fevereiro de 1912: o bolo é feito de dois biscoitos de chocolate com uma camada interna de leite, ndt]; os hispânicos têm os "coconuts" {noz de coco, ndt] e assim por diante. E, como afirmado antes, há excepções no "modelo branco": pessoas que são brancas por fora, mas não brancas no interior. Eu não tenho certeza acerca de qual termo deve ser aplicado a eles, excepto o de "seres humanos".

O que eu exponho aqui não é uma proposição racial, mas um programa cultural. Aqueles que, em última análise, apoiam e defendem os paradigmas da cultura europeia e da sua industrialização são os meus inimigos. Aqueles que resistem a isso, aqueles que lutam, eles são os meus aliados, os aliados dos povos indígenas da América. E eu não dou a mínima importância ao que a cor de pele parece representar. Caucasiano é o termo branco para a raça branca: ao contrário, é a perspectiva europeia a que me oponho.
Os comunistas vietnamitas não são exactamente o que você pode considerar geneticamente caucasianos, mas agora agem de acordo com a mentalidade típica dos europeus. O mesmo vale para os comunistas chineses, para os capitalistas japoneses ou para os Bantu católicos Bantu ou para "Peter McDollar" da Reserva Navajo ou para Wilson Dickie aqui em Pine Ridge. Isto não é sobre questões de racismo, mas apenas o reconhecimento de uma mente e dum espírito que compõem uma cultura.

[...]

Eu principalmente trabalho com meu povo, com a minha comunidade. Outras pessoas que não assumem perspectivas europeias deveriam fazer o mesmo. Eu acredito no lema: "Confia na visão dos teus irmãos", embora gostaria de acrescentar a palavra "irmãs". Tenho fé na perspectiva que se baseia nos conceitos de comunidade e cultura manifestadas pelas pessoas de todas as raças, que naturalmente resistem a industrialização e a extinção humana. Claramente, os brancos, no individualismo deles, podem compartilhar isso somente quando chegarem a consciência de que a continuação dos imperativos industriais da Europa não é uma perspectiva, mas o suicídio da espécie.

O branco é uma das cores sagradas do povo Lakota, como o vermelho, o amarelo e o preto. As quatro direções. As quatro estações do ano. Os quatro períodos da vida e do envelhecimento. As quatro raças da humanidade. Tente misturar o vermelho, o amarelo, o branco e o preto e será obtido o bruno, a cor da quinta raça. Esta é a ordem natural das coisas. Segue-se que é natural para mim trabalhar com todas as raças, cada uma com a sua própria expressão específica, com a sua identidade específica e a sua mensagem.
No entanto, há um comportamento particular entre a maioria dos caucasianos.
Assim que critico a Europa e o impacto dela sobre as outras culturas, os caucasianos ficam na defensiva. Começam a defender-se. Mas eu não vou atacá-los pessoalmente, eu ataco a Europa. Em personalizar as minhas observações críticas sobre a Europa, estão a personalizar a cultura europeia, identificando-se com essa cultura. Em última análise, defender-se, neste contexto, significa defender a cultura europeia de morte.
É um equívoco que deve ser superado, e deve ser ultrapassado rapidamente. Nenhum de nós tem energia para gastar em tais conflitos sem sentido.

O caucasianos têm que oferecer à humanidade uma visão muito mais positiva da cultura europeia. Acho que sim. Mas para alcançar essa visão, é necessário que os caucasianos, junto com o resto da humanidade, rompa com a cultura europeia para examinar criticamente a Europa, o que ela é e o que ela faz. Agarrar-se ao capitalismo, ao marxismo e a todos os outros "ismos" significa, simplesmente, permanecer dentro da cultura europeia. Não se pode evitar esse facto fundamental. E, como todos os factos, esta opção oferece uma escolha. Entender que esta escolha é baseada na cultura e não na raça. Entender que escolher a cultura europeia e industrial é como escolher ser o meu inimigo. E entender que esta escolha é vossa, não minha.

Isto leva-me a abordar a questão dos índios que estão à deriva nas universidades, nas favelas da cidade e nas outras instituições europeias.
Se você está lá para aprender a resistir ao opressor, de acordo com o seu modo de vida vinculados pela tradição, que assim seja. Eu não sei como você pode combinar as duas coisas, mas talvez você terá sucesso. Mas mantenha a sua maneira de sentir bem ligada à realidade.
Atenção em acreditar que o mundo do branco pode agora oferecer soluções para os problemas que o mundo apresenta. Tenha cuidado, também, em permitir que as palavras de pessoas nativas possam ser distorcidas em favor de nossos inimigos. A Europa inventou a prática de distorcer as palavras e "virar o omelete". Basta dar uma olhada aos tratados entre as nações indígenas da América e os vários governos europeus para perceber como isso seja verdade.
Encontra a tua força a partir do que você é!
Uma cultura que regularmente confunde revolução com continuação, que confunde a ciência e a religião, que confunde revolta com resistência à mudança, não tem nada de útil para ensinar e nada para oferecer como modelo de vida. Há muito tempo os europeus perderam o contacto com a realidade.

Então, para concluir, gostaria de esclarecer que a última coisa no topo dos meus pensamentos é conduzir alguém ao marxismo. O marxismo é estranho à minha cultura, assim como o capitalismo e o cristianismo. Na verdade, posso afirmar de não tentar levar alguém para algo. De certa forma tentei ser um "líder", no sentido de como os media dos brancos costumam utilizar este termo, quando o American Indian Movement era uma organização jovem.
Isso ocorreu como resultado duma confusão que não tenho há muito tempo. Não é possível ser tudo para todos. Não quero ser explorado por causa desta posição pelos meus inimigos, eu não sou um líder. Eu sou um patriota Oglala Lakota. Isso é tudo o que eu quero e o que preciso. E sinto-me muito bem com quem eu sou.




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