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"Eu, leitor, à espera de notícias sobre um bebê indígena assassinado"



Bebê Kaingang é degolado no litoral de Santa Catarina; percorro os jornais para obter mais informações e ver a comoção; mas devo estar distraído, onde estão as notícias? 

Foto: Gabriel Felipe/RBS TV

Por Alceu Luís Castilho


Ele tinha 2 anos e foi assassinado. Um homem o atacou enquanto sua mãe o amamentava. Passou a faca em seu pescoço. Estivesse no Guarujá, ou na Barra, sua morte teria gerado uma comoção nacional. Mas não. Ele estava numa rodoviária. Em Imbituba, no litoral sul de Santa Catarina. Chamava-se Vitor Pinto, morava em Chapecó, na divisa com o Rio Grande do Sul. Era um bebê indígena.
Vi ontem a notícia no G1, o portal da Globo: Menino indígena de 2 anos é morto em frente a rodoviária no Sul de SC. Na hora, pensei: isso é uma notícia nacional. Internacional. Mania de jornalista. Pensar na repercussão. isso não significa indiferença, pelo contrário. Significa querer que essa vida seja percebida. Que os indígenas sejam respeitados. Outros casos, evitados.
Por isso fiquei esperando os jornais, nesta manhã de quinta-feira, último dia de 2015. Sem muita esperança. Pensei: vai virar uma notinha. Em pé de página. Um registro protocolar na Folha, no Estadão, talvez um pouco mais no Globo, já que foi o G1 que deu a notícia. Sem exclamação – sem chamada de primeira página, a condição para que um fato seja considerado realmente importante pelo jornal.
Abri a Folha. Caderno Cotidiano. Nada. Nem uma linha. Li de novo. Não achei. Pensei: bom, talvez tenha ido somente para a última edição, de São Paulo, já que eu não estava na cidade. Muito embora, ao lado, a edição de esportes registrasse o jogo do Barcelona no campeonato espanhol – que aconteceu depois. Tinha Neymar, tinha Messi, tinha a São Silvestre. Mas nada de Vitor.
Nada também na última edição da Folha. E no Estadão? Caderno Metrópole. Nada. Textos sobre monotrilho, escolas “invadidas”. Um abre de página sobre uma obra no porto, no Rio, que “causa problemas a turistas”. Abaixo, uma não-notícia sobre a lentidão na Imigrantes na saída do feriado. Esportes. “Jean não vem mais”. “Lugano está perto”. Vítor? Um bebê indígena de 2 anos esfaqueado? Nem um registro.
O Globo. Pensei: aqui teremos uma nota. Talvez um título no meio da página. A foto da RBS (retransmissora da emissora na região Sul) com os chinelos de Vítor. Procuro. Vejo a capa. Uma queniana com um cocar – uma competidora da São Silvestre. A foto principal é de guardas armados na Praia de Copacabana. Na manchete, a alta do dólar. Pedaladas. Vinhos chilenos. O arremedo do mundo na capa de um jornal.
Internamente, estará lá – decido. Folheio. Um artista plástico diz que as fronteiras “mudam com o passar das nuvens”. Abaixo, foto dos 30 jornalistas escalados para cobrir o réveillon no Rio. Páginas seguintes: microcefalia. Médicos cubanos. El Niño – não o menino Vítor, mas o fenômeno climático. Aécio recebeu propina? Anúncio da Tele Rio: “Feliz 2016”. Uma série sobre os dez crimes que chocaram o Rio.
“Estudante é morto a tiros no Jacarezinho”. Abaixo da previsão do tempo. Wesley levou três tiros. Mais uma vítima da polícia pacificadora. 15 anos. Devo estar chegando na notícia sobre Vítor. Mas não. Vejo o obituário. Preço para avisos religiosos e fúnebres. Em um dia útil, o valor mínimo é de R$ 1.062,00, para uma coluna com altura de 3 centímetros. O valor máximo é de R$ 14.340,00. Três colunas de 10 centímetros.
Quantos centímetros tinha Vítor? Nos principais jornais brasileiros, não ganhou nenhum. Pelo site do Zero Hora, o jornal gaúcho da rede RBS, sou informado de que o assassinato teve endereço certo. “A suspeita dos policiais militares é que o homem estaria incomodado com a presença dos indígenas no local“, diz o texto. A mãe pertence à etnia Kaingang. É de Iraí (RS). Ou seria de Chapecó? Vende artesanato no litoral catarinense.
No dia 22, o site Desacato informava que famílias Kaingang – também do Rio Grande do Sul – estavam sendo “convidadas a se retirar” da rodoviária de São Miguel do Oeste, no outro extremo de Santa Catarina. Todo ano eles vendiam artesanato no local. Mas deram a eles lonas para continuarem o comércio num ponto atrás do cemitério. “Choveu, nós molhamos tudo, e lá na rodoviária não se molhava porque a gente ia na rodoviária se proteger”.
NEONAZISTAS SÃO SUSPEITOS, DIZ CIMI
A seção regional Sul do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) emitiu nota hoje, 31 de dezembro, manifestando indignação com o assassinato. O texto traz o seguinte parágrafo:
“Informações colhidas na delegacia por um advogado que acompanhou a família Kaingang dão conta de que esse cruel assassinato pode estar relacionado a ações de grupos neonazistas ou de outras correntes segregacionistas, que difundem o ódio e protagonizam a violência contra índios, negros, pobres, homossexuais e mulheres”. Ler priginal no Blog do Alceu Castilho AQUI.





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